Filas
Se tem uma coisa que pernileiro gosta é de fila. Não podem ver uma que já vão ficando logo atrás. A história que vou lhes contar, por sinal, é justamente sobre isso; e, embora vocês possam achar que não passa de uma mentira deslavada, ou história de pescador, bem… É isso mesmo.
Só que os pescadores do Pernil contam a verdade, somente a verdade, nada além da verdade.
Certo dia, Ferdinando Impessoa estava caminhando pela rua quando viu um monte de gente enfileirada. Se fosse poeta, teria provavelmente feito uns versos do tipo:
“Tinha uma fila no meio do caminho,
No meio do caminho, havia uma fila.
Nunca me esquecerei do dia em que,
No meio do caminho,
Tinha uma fila”.
Porém, (in)felizmente, deste mal ele não sofria, embora sofresse de tantos outros, quiçá, piores, e este poema nunca veio a vida. Mas a sua curiosidade, ah, sua curiosidade insaciável, a mesma de tantos outros pernileiros, e a vontade de nunca, jamais, perder uma boa oportunidade, fizeram com que ele se postasse naquela fila.
Como disse, um dos seus tantos outros males era a curiosidade. Outro, porém, ainda pior era o seu orgulho: Ferdinando não queria admitir a ninguém que estava em uma fila sem saber o motivo! Assim, logo se plantou atrás de um homem enternado que estava à sua frente. Olhou para ele e talvez tenha feito uma expressão muito aberta, porque o homem imediatamente se virou e empinou o nariz.
Seria ele de Curitoba¹?
De qualquer forma, Ferdinando ficou lá, olhando ao redor, curioso; mas, também, não poderia olhar demais, ou as pessoas pensariam que ele não sabia por que estava lá, e, claro, não havia nada mais ridículo que uma pessoa parada em uma fila sem saber o motivo de existência dela, certo?
Pouco depois, uma moça passou, olhou a fila e, como toda boa pernileira, decidiu ficar logo atrás de Ferdinando. Compreendendo o que seu colega de frente fizera, antes que ela pudesse dizer um “A”, ele virou a cara e empinou o nariz.
Ah-há! O curitobano ali não faz a menor ideia de por que está na fila, então!
Mas, não importava; lá eles ficariam.
Pouco depois, mais gente chegou, e todas foram se acumulando logo atrás.
O tempo passou, e vendedores ambulantes passaram, oferecendo os mais diversos produtos; tinha alguns até alugando cabanas e bancos.
– Ô, meu chegado, vem cá – disse Ferdinando para um deles.
O homem, todo empolgado, carregado de quinquilharias inúteis feitas na Atchina, aproximou-se, todo serelepe. Ferdinando passou o braço sobre o ombro suado do homem, sem se importar em sujar a manga da camisa, para poder cochichar em seu ouvido:
– A fila tá muito longa? – começou.
– Tá enorme, meu cumpadi.
– E, vem cá…
Ele olhou para os lados; a moça conferia as unhas, indiferente, e o pretenso curitobano fuçava no celular.
– Para que é essa fila aqui mesmo? – ele cochichou.
– Ocê num sabe pra qui é? – o outro indagou, surpreso.
– Sh!!! – exclamou ele, mas foi tarde; os outros o encaravam, em um misto de curiosidade e desprezo.
– Não, é lógico que eu sei.
– Ah, tá – disse o homem.
– É que eu queria confirmar se é nessa mesmo que eu deveria estar.
O vendedor olhou para ele.
– É nessa mesmo, sim.
– Então, tá bom, se você falou, tá falado, chefia. Me vê um salgadinho e uma água, faz favor.
– Vintão – falou o outro.
– Aceita pox²?
– Mas, claro, realeza.
E, assim, ele ficou lá, comendo seu salgadinho. Ao longo da fila, o vendedor ainda vendeu vários outros, antes de desaparecer de vista, virando o quarteirão.
Pouco depois, começou a apertar a vontade de fazer xixi; e qual não foi a sua surpresa quando um ambulante onisciente apareceu com um banheiro químico nas costas.
– Fica de boa, meu cumpadi. Eu guardo procê o lugar na fila, tá ligado?
– Tá quanto para usar o banheiro?
– Deizão.
Ferdinando não teve muita escolha; pagou ao homem e se aliviou no banheiro. Outras pessoas ao longo da fila fizeram o mesmo.
O tempo foi passando; os ambulantes continuavam para lá e para cá, provavelmente ficando milionários.
Ferdinando olhou para o relógio; já estava quase dando o seu horário de fim de expediente, e ele sequer voltara ao trabalho! Para o seu chefe, até poderia se explicar, mas como explicaria para a esposa, se chegasse atrasado em casa?
– Querida, eu acho que vou me atrasar.
– Algum problema no serviço?
– Não, é o trânsito, parece que está tudo engarrafado.
– Ah, tá bom. Vai me avisando.
Olhou em volta; outras pessoas pareciam fazer o mesmo que ele, avisando suas famílias que estavam atrasados.
Será que alguém se dera ao trabalho de avisar o motivo real?
As horas seguiram, incólumes. A moça atrás dele tremia de frio, mas não tinha dinheiro suficiente para pagar aos ambulantes pelo aluguel de um casaco. A pessoa atrás dela havia alugado uma lanterna, e ela aproveita a sua iluminação indireta para não ficar no breu total entre as lâmpadas queimadas da iluminação pública.
Aquilo poderia soar absurdo, sim, mas Ferdinando não tinha como dar o braço a torcer, não depois de tanto tempo parado na fila! E se desistisse, e houvesse algo impressionante, deslumbrante, simplesmente miraculoso? E se fosse uma competição, e o último a lá ficar ganhasse um prêmio?
Assim, ele continuou lá parado, até que, de repente, contrariando todo o respeito próprio e orgulho, a moça atrás dele disse:
– Com licença…
Ele achou que ela pediria seu casaco emprestado, mas, mesmo assim, respondeu:
– Sim?
Depois de tanto tempo com todos em silêncio, cada um perdido em sua vida, mexendo em seus celulares, era bom finalmente ter algum contato humano.
Ela se aproximou para cochichar.
– O senhor sabe para que é esta fila?
– A senhora não sabe? – ele respondeu, imitando o vendedor ambulante.
Ela abaixou a cabeça, admitindo sua ignorância.
– Não tenho mais certeza, estou aqui há tanto tempo…
– Eu não acredito nisso…
Ele olhou em volta, buscando por alguma pista, mas ele já havia passado horas pensando sobre o motivo de existência daquela fila e até então não chegara a conclusão alguma.
Agora, como admitir sua ignorância? Não só isso, como admitir a idiotice de ficar lá parado, por horas a fio, sem saber por quê?
– Eu não sei dizer – disse ele, por fim.
– O senhor não sabe? – indagou ela, surpresa.
– Infelizmente, não – ele falou, suspirando.
– Vocês não sabem para que é esta fila? – indagou o curitobano que estava diante deles.
Ambos balançaram a cabeça. Ele deu uma risadinha de escárnio, e depois:
– Eu também não.
Desanimado, deixou os ombros caírem.
– E se eu fosse até lá na frente, no começo da fila, descobrir? – sugeriu Ferdinando.
– Não faça isso! – exclamou outro, que estava ainda à frente do curitobano. – Quem faz isso, nunca mais volta!
– Como assim?
– É verdade – assentiu o curitobano.
– De todos aqueles que, aqui na minha frente, foram ver o que tinha no começo da fila… Ninguém voltou para assumir seu lugar – prosseguiu o outro homem.
– É verdade – disse a mulher. – Acho que tem uma regra. Se sair, perde o lugar. Provavelmente, quem foi voltou para o fim da fila.
– Mas…
– E você não quer ficar no fim da fila, quer?
Se ele não sabia para que era a fila, faria diferença estar no começo ou no final? Não sabia dizer, mas, certamente, não era uma boa perder tantas posições; olhando de onde estava, ela se perdida dobrando ainda em outro quarteirão e, ele tinha certeza, já devia estar beirando os quilômetros.
Uma fila daquele tamanho não poderia passar despercebida; ele pegou o celular e começou a procurar notícias nos jornais.
– Olha aqui! – ele disse, excitado.
De fato, lá estava uma reportagem:
“Fila quilométrica surpreende a cidade de Santa Paula”.
O texto, porém, não conseguia explicar o motivo da fila, nem onde, exatamente, ela começava; mesmo olhando pela foto, eles simplesmente não conseguiam identificar qual era o lugar onde ela começava, já que parecia apenas o telhado de um galpão.
– Gente, mas não é possível! Nem uma pista?
O tempo foi passando; os vendedores ambulantes alugavam barracas e sacos de dormir, e alguns, por incrível que pareça, vendiam até mesmo preservativos. À distância, podiam-se ouvir os mais diversos sons: em algum lugar, cantavam feliz aniversário; em outro, uma missa fúnebre. Em algum ponto no meio, alguém se casava.
– Há quanto tempo esta fila está aqui? – questionou Ferdinando.
Ninguém sabia; os que estavam com ele haviam chegado naquele mesmo dia, mas, se a fila era quilométrica, era bem provável que outros tivessem chegado dias e dias antes. Talvez, meses.
Na calada da noite, bebês choravam e pessoas gemiam pelos mais diversos motivos; Ferdinando, porém, não arredava o pé. Decidido a não cair no mesmo truque da última vez, não comera nem bebera mais nada. Só usaria o banheiro no dia seguinte, se fosse o caso.
Ao redor das dez da noite, sua esposa ligou.
– Ferdinando, onde você está? Aconteceu alguma coisa?
– Estou numa fila…
Mas não conseguiu dizer mais nada; sua bateria acabou. Imediatamente, um ambulante surgiu ao seu lado, vendendo e alugando carregadores portáteis. Ferdinando, sem opção, alugou um; o homem diante dele comprou um para si.
Quanto obteve energia o suficiente, falou para a esposa onde estava.
– Mas você está numa fila? Para quê?
– Eu… – ele baixou a voz. – Não sei.
– Como assim, Ferdinando? Por que você está aí, então?
– Eu também não sei.
– Ferdinando! Que coisa absurda…
– Você sabe, amor, eu vi uma fila e… Bom, não sei explicar, mas… Você não viu no jornal? É uma fila quilométrica! – comentou, com orgulho.
Ela bufou; inconformada, decidiu que iria procurá-lo.
– Onde você está?
– Estou… No cruzamento da Megusta com a Paulinista.
– Tá, me espera aí.
– Não saio daqui nem morto!
A cidade estava sem trânsito, então, sua esposa chegou rapidamente.
– Oi, querida! – disse ele, dando-lhe um beijo. – Conseguiu ver o começo da fila? – questionou, ansioso; umas dez pessoas ao seu redor levantaram as orelhas (algumas até abriram a porta das barracas) para ouvir a resposta.
– Não, eu vim de metrô. Parei direto aqui perto.
– Droga – reclamou ele.
– Por quê?
– Eu queria saber o que é… – ele murmurou.
– Mas, por que você não foi?
– Não queria perder o meu lugar.
– Mas, Ferdinando! Por que você está guardando lugar na fila, se nem sabe o que tem no final?
– Não é assim a vida, minha senhora? – filosofou o curitobano, que, no final, talvez não fosse tão curitobano assim. – Não estamos somente guardando um lugar na fila, esperando o que virá?
Ela suspirou.
– Tá bom, então, vou lá descobrir…
– Não! – gritou Ferdinando. – As pessoas que foram… Nunca voltaram!
– Ou pior! – comentou a mulher atrás.
– O que pode ser pior que isso? – a esposa questionou.
– Elas foram para o final da fila… – disse o curitobano, usando a lanterna que alugara para parecer ainda mais assustador.
– Afe. Tá bom, vou ficar aqui com você.
– Ei, ei, ei! – reclamou um homem atrás da mulher que estava atrás de Ferdinando. – Nada de guardar lugar pros outros!
– É – reclamou a mulher. – Pode ir pro final da fila!
– Mas, ela é a minha esposa. Só está aqui para me fazer companhia – argumentou Ferdinando. – Não é como se ela fosse conseguir… Aquilo que a gente está esperando. Sabe?
– Nem vem dar este golpe – disse um casal logo à frente, abrindo as portas da cabana. – A gente sente cheiro de golpista de longe.
– O golpe tá aí, só não vê quem não quer – disse outro.
– Calma, gente, não é bem assim!
– Se querem ficar juntos, vão os dois para o fim da fila! – opinou ainda outra, e foi reforçada por um coro.
– De jeito nenhum! – disse Ferdinando. – Estou aqui há horas! Não vou para o fim da fila!
Ele parou, pegou as mãos da esposa e, olhando-a fundo nos olhos, disse:
– Querida, sinto muito, mas este é o momento em que um homem de família tem de tomar uma decisão.
– Ah, que bom! Finalmente você desistiu dessa idiotice e a gente vai pra casa!
– Não exatamente… – ele disse, tirando a aliança e lhe entregando. – Desculpe, mas não posso ir para o fim da fila.
– O quê? – gritou ela. – Seu ingrato! Depois de todos esses anos, vai me trocar por… Uma fila?
Ferdinando deu de ombros, sem jeito; subitamente, um homem enternado apareceu ao seu lado.
– Serviços advocatícios para divórcio?
– Eu vou querer – disse a esposa. – Vou arrancar o couro dele. E pode colocar aí também que eu quero seja lá o que for que ele vai ganhar quando finalmente a fila andar e ele for atendido.
– Pode deixar, minha senhora.
– Não, querida, como assim?
– Se é importante o suficiente para você me trocar por isso… Eu também quero!
– Fiquem tranquilos, se for um divórcio consensual, podemos fazer tudo por aqui – disse o ambulante de terno. – E, se não for, o juiz deve vir semana que vem para fazer um acordo…
Discutiram os termos; em seguida, despediram-se.
Ferdinando passou a noite lá.
O tempo passou; ele perdeu seu emprego, pois, claro, não compareceu para trabalhar por vários dias, assim como tantos outros na fila; a mulher atrás dele também perdeu o marido, mas só quando ele descobriu que ela o estava traindo com Ferdinando; o enternado curitobano, no final das contas, mostrou que de curitobano não tinha nada, mas era um marineiro³ de mão cheia e passou os dias contando vários causos.
A fila atingia quilômetros e quilômetros; a televisão filmava, pessoas vinham de fora para conhecer a fila gigante, e o livro dos recordes até mesmo a registrou e presenteou o primeiro da fila por este feito com uma placa de metal: “A maior fila sem sentido do mundo”. Pessoas se casavam, divorciavam, tinham filhos, faziam exercícios, enfim, a vida de todos ficava lá, à mostra para quem quiser fazer, todos rigidamente alinhados em uma fila que não levava ninguém a lugar nenhum. As más línguas, claro, diziam que era a fila de um restaurante famoso ausgraliano, mas era mentira; ninguém recebeu as famosas cebolas empanadas de degustação enquanto esperava, o que era uma prova cabal de que não se tratava disso.
Enfim, determinado dia, a fila começou a se dissipar. Primeiro, acharam que era ilusão de ótica, mas, conforme foi se aproximando, eles viram que não.
Duzentos e treze dias depois de ter entrado na fila, Ferdinando viu o homem à sua frente pôr o chapéu, pegar sua mala e, simplesmente, ir embora.
– Mas… Por quê?
Ninguém sabia por quê. Todos haviam desistido da fila, porque a pessoa da frente havia desistido.
Ferdinando olhou para os lados; atrás dele, a fila também se dissipava. Olhou para a nova esposa, seu amor de fila; o que sabiam exatamente de si mesmos? Por que haviam se casado? Não sabia dizer. A única coisa que os mantinha unidos era a fila. Para onde iriam depois daquilo? Não sabia igualmente; ele perdera a casa para a ex-esposa; ela, para o ex-marido. Os empregos, também. Não tinham dinheiro, nem aonde ir; tudo o que tinham era a fila.
– O que vamos fazer agora? – ele indagou.
– Já sei – disse ela.
Os dois correram dois quarteirões acima e acharam o lugar perfeito; pegaram uma pequena fita zebrada, passaram da porta para a árvore logo adiante, e da árvore para o poste, formando um L delimitador. Em seguida, postaram-se diante da porta, fazendo uma pequena fila; logo, outros vieram atrás. Eles empinaram os narizes, para não permitir que ninguém perguntasse para o que eles estavam ali e sorriram discretamente; estava funcionando. Logo, teriam outra fila. Logo, teriam outra razão para viver.
A poucos quarteirões dali, os ambulantes todos estavam reunidos.
– Foi um sucesso, pessoal! Próxima cidade no nosso mapa… Barulhos⁴, aí vamos nós!
E se foram fazendo fila com suas vans.
¹ Curitoba é a capital do estado do Paralá, que fica no sul do Pernil. O povo daquela região é bastante estigmatizado, por levar muito a sério o que mamãe ensina a seus piás desde pequenos: “Não falem com estranhos”. E eles não falam, mesmo. Tem até a história de um curitobano que estava infartando e ficou lá na rua, caído, até morrer. Ninguém chamou o serviço de emergência, porque ninguém conhecia o pobre coitado do homem, então ninguém foi lá perguntar se ele estava bem. Depois disso, o prefeito de Curitoba, Patinho Júnior, instituiu uma lei que obrigava a todos gravarem uma mensagem de emergência, que deveria tocar pelo celular, se eles se sentissem mal. Ela deveria dizer apenas: “Olá, meu nome é tal, como vai?”, em um looping eterno. Tecnicamente apresentada, a pessoa não seria mais estranha, quer dizer, não mais estranha quanto se poderia ser ao se gravar uma mensagem do tipo, e os outros poderiam atendê-la. Até que deu certo. No entanto, pouco depois, houve um boom de pessoas chamadas “Tal” no hospital, o que provocou a maior confusão. Mas, tudo bem, eles não passavam de estranhos, mesmo.
² Pox é um novo método de transferência bancária criado pelo governo do Pernil. Esse nome veio justamente porque os seus criadores, em um momento de inspiração divina, acharam que este método seria tão contagiante quanto uma catapora ou sarampo (doenças que, em ingrês, se chamam “pox”). Foi, de fato, muito contagiante, especialmente por não se precisar pagar pelas transferências. O que eles não imaginavam, porém, é que tudo era um plano governamental para obter informações sobre todos no país: o que compravam, quanto gastavam, para onde transferiam, onde estavam, com quem se relacionavam e, principalmente e acima de tudo, se o dinheiro oriundo de corrupção e tráfico estava sendo adequadamente escondido. Porque, é claro, o governo não estava preocupado com o cidadão comum; tudo o que ele queria era garantir que os criminosos de colarinho branco continuassem lucrando e fazendo suas falcatruas por baixo dos panos. E, aparentemente, estava dando certo; quando algum corrupto transferia via pox, agentes da polícia federal iam lá lhe dar um safanão na orelha. “Transfere direito, otário! Por que você acha que a gente ainda mantém dinheiro vivo?”. Pois é…
³ Marinas Gerais era o novo nome do estado antigamente conhecido como Minas Gerais. De fato, durante a colonização do Pernil, aquele lugar, pelo seu potencial de gerar ouro para a coroa potroguesa foi muito explorado. Depois de um tempo, no fim do século XX, um milionário excêntrico decidiu comprar o estado e transformá-lo em uma marina gigante, o que não fazia sentido, porque Minas não tinha saída para o mar. Ele não se importou. Desviou o desvio do Rio Só Um Risco (antigamente, era São Francisco, mas foram tantos os desvios que ele literalmente virou só um risco), encheu as minas de água e, no final, Minas Gerais virou Marinas Gerais. O único problema é que o acesso dos navios era somente por helicóptero ou avião, mas ele não se importou; seu sonho havia se realizado.
Ah, sim, os marineiros, como sempre, gostavam muito de pão de queijo, café e, claro, contar histórias de pescadores, que eram sempre, sempre reais.
⁴ Cidade satélite de Santa Paula, onde fica o aeroporto internacional. Tem este nome justamente porque os aviões, quando passam, fazem muito barulho. Pois é, pessoal sem imaginação esse do Pernil…
O Dr. David sempre sonhou em ser médico e, especialmente, em cuidar de crianças. Formou-se em medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e, após dois anos trabalhando como médico generalista, onde pôde atuar próximo a famílias pobres e conhecer suas dificuldades e os diversos problemas do sistema de saúde brasileiro, começou a residência em Ortopedia e Traumatologia pelo Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Leia mais