Cachinhos Dourados Espaciais
Major Cachinhos Dourados era uma destemida exploradora espacial. Ela tinha este nome justamente porque tinha cachos dourados, e, bem, com o passar do tempo, ninguém sabia qual era seu nome verdadeiro.
Cachinhos tinha, na realidade, uma missão muito, muito importante: precisava encontrar um planeta perfeito para que pudesse dar continuidade à humanidade. Era inevitável: se os seres humanos não destruíssem o planeta por si próprios, ela sabia que em um determinado tempo (bilhões de anos, mas, quer saber? Isso passa num piscar de olhos espaciais), o Sol iria se esgotar e… Bem, ela preferia não pensar nessas coisas, porque lhe tiravam o sono.
Assim, cachinhos entrava em fendas da quinta dimensão e mapeava os sistemas solares mais próximos da via Láctea, procurando lugares que fossem habitáveis para seres humanos.
Isso não era uma coisa fácil. O principal problema era achar uma zona adequada – a zona de Cachinhos Dourados, como ela própria nomeara. Quando ela passou zunindo pelos planetas naquele sistema que havia encontrado, os seus sensores foram lhe indicando:
– Muito frio… Muito frio… Muito frio… Muito quente. Definitivamente, muito quente… Ei, vamos ver aquele ali!
Ela se impulsionou em direção a um que estava do outro lado da estrela. Ele era quente, mas não muito, mais frio nos polos e mais quente na linha central.
– É isso, este é perfeito!
Porque era isso: os planetas que estavam longe demais da sua estrela não recebiam irradiação o suficiente, e, assim, ficavam frios. Os planetas que estavam perto demais, por outro lado, recebiam irradiação demais, ficando muito quentes. Esta zona intermediária, que não era nem quente, nem fria demais, era a zona de Cachinhos Dourados.
Mas, não era só isso; o próximo passo era ver o tamanho. Porque o planeta não podia ser grande demais, nem pequeno demais, por causa de uma coisa chamada gravidade. E aquele, especificamente, era tão grande, que, se Cachinhos lá tentasse aterrissar, acabaria sendo esmagada.
– Ai, ai… Vamos para o próximo sistema solar.
E, assim, ela ia pulando de sistema em sistema.
– Este é muito grande… Este é muito pequeno…
Depois de muito trabalho, ela conseguiu.
– Este é perfeito!
Ele estava na zona de Cachinhos Dourados e tinha uma massa semelhante à do seu planeta original, ou seja, ela conseguira aterrissar, andar e decolar sem problemas.
Só que…
– Ele não tem atmosfera!
Outra coisa muito importante para um planeta conseguir abrigar seres humanos é a atmosfera. Com a sua gravidade, o planeta consegue segurar as partículas do ar, que vão se acumulando e gerando a atmosfera. Se há pouca atmosfera, não há ar suficiente para se respirar. Por outro lado, se há atmosfera demais, ela pode esmagar quem estiver lá, quase como se estivesse no fundo do oceano. Afinal, a atmosfera nada mais é que um oceano de ar.
Ela suspirou, decepcionada, e partiu com sua nave à procura de outro sistema.
– É este! – ela exclamou, por fim, depois de meses andando por todos os cantos do espaço. – Está na zona perfeita, tem uma massa um pouco maior que o nosso, uma atmosfera só um pouco mais grossa e… Ah, puxa vida! Ele gira devagar demais!
Isso era outro grande problema. O planeta precisa girar na velocidade adequada, se não, um lado esquenta demais, enquanto o outro esfria demais. Isso gera ventos tão fortes, que fica impossível de qualquer pessoa viver lá!
Ela continuou com a sua procura; não podia ser inclinado demais, ou as estações do ano seriam muito intensas, nem de menos, ou não haveria estações. Não podia estar perto demais de um cinturão de asteroides, ou seria destruído por eles; mas, também, não poderia estar longe demais de outros planetas maiores, porque eram eles que protegiam de meteoros errantes. Podia ter satélites naturais, também, mas eles não podiam ser muitos, nem muito grandes, ou ficaria uma confusão de marés. Ah, e ele tinha de ter água, claro, mas não podia ser de menos, ou não daria para se viver, nem demais, ou não teria terra para se estabelecer. Isso para não falar das tempestades, furacões e…
Bom, Major Cachinhos levou quase três anos na sua missão, pulando de sistema em sistema solar por toda a via Láctea, até que encontrou, no extremo oposto do seu planeta natal, um pequeno planeta azul. Ele era o terceiro planeta de seu sistema solar; era do tamanho correto, tinha a atmosfera correta, estava à distância perfeita do cinturão de asteroides e dos planetas gigantes, tinha apenas um satélite, uma inclinação ideal para as estações do ano, ventos de velocidades agradáveis… Ele tinha tudo, absolutamente tudo de bom! Mas, tinha um problema: ele emitia luzes próprias.
– Isso só pode significar uma coisa!
Planetas não emitem luz própria, eles só refletem a luz da sua estrela. Então, se você olhar para o lado não iluminado do planeta e houver luzes brilhando no espaço, só pode significar uma coisa: há vida inteligente lá, com alto grau de tecnologia.
Major Cachinhos suspirou.
– Está ocupado – disse.
E partiu para procurar em outro sistema solar.
O Dr. David sempre sonhou em ser médico e, especialmente, em cuidar de crianças. Formou-se em medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e, após dois anos trabalhando como médico generalista, onde pôde atuar próximo a famílias pobres e conhecer suas dificuldades e os diversos problemas do sistema de saúde brasileiro, começou a residência em Ortopedia e Traumatologia pelo Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Leia mais