Metafísica: sobre algumas coisas da vida
Sobre fazer dezoito anos.
Dezoito anos…
O que são dezoito anos?
O que é fazer dezoito anos?
Por que agora eu sou maior?
Por que agora eu posso tirar carta?
Responder pelos meus crimes, ingerir bebidas alcoólicas?
Por que justo com dezoito?
Por que não dezenove? Dezessete? Vinte e um?
No Japão, a maioridade vem com os vinte e um anos. Em Israel, os judeus consideram adultos os garotos com mais de treze e as garotas com mais de doze. Mas, por que justamente, dezoito, aqui no Brasil?
E aliás; como se pode definir que eu tenho dezoito anos? Por que não dezoito anos e oito meses, contando a partir do momento em que o espermatozoide e o óvulo se juntaram na barriga da minha mãe?
Porque, no final das contas, eu não senti qualquer diferença indo dos dezessete para os dezoito. Nenhuma…
Dezoito. Dez mais oito. Dez anos de infância, oito de adolescência. Será?
Será que eu chego aos oitenta e um?
Se eu comemorar apagando as velas ao contrário? Será que quando eu fizer oitenta e um vou ter o ânimo de dezoito?
Como vai ser?
A vida começa agora. Pelo menos, a vida pelos meus próprios pés.
Ou será que ela começou, na verdade, dezoito anos e oito meses atrás?
Não se sabe, é indefinível. E vai ficar assim, até que estes dezoito se esgotem. Ou os oitenta e um.
Sobre dividir apartamento.
Viver sozinho é uma coisa bastante chata. Quer dizer, para quem passou anos dividindo o quarto com o irmãozinho chato, é um sonho que se realiza, mas quando você é filho único e passou praticamente todos os seus dias sozinho, contando apenas com a presença dos seus pais em algum lugar da casa, quando você se muda para algum lugar e passa a dividir o seu apartamento com ninguém além da sua sombra, sabendo que não há vivalma no resto da casa, na calada da noite ou na aurora, você começa a ficar deprimido. E é justamente por isso que é importante dividir apartamento.
Mas será?
Vivendo sozinho você cria hábitos tão pentelhos que, se algum dia você chegar a se casar, não vai conseguir dividir nada. Além disso, sozinho, em casa, de noite, sem ninguém, com seu único amigo sendo o MSN¹, é triste. Tristíssimo.
E agora que eu divido? Como vai ser? Eu vou ter companhia, sim, mas cada um tem seu modo. Será possível conviver? É possível uma pessoa dividir uma casa com alguém que ela conhece há não muito tempo?
Mas não é isso que fazemos na vida? Não dividimos nossa vida com pessoas que conhecemos, às vezes, por segundos, às vezes, por anos?
Qual seria a diferença, então?
Afinal, é tudo passageiro, como dizem.
Por isso mesmo que eu digo; estarei tão animado com a mudança daqui a seis meses? Seis anos?
Sobre o futuro do Brasil.
Não preciso dizer muito… Nostradamus previu que o Brasil (será, será?) seria o celeiro do mundo… No futuro. Mas quando? Porque, do jeito que vai…
Nosso presidente não sabe o que faz. O povo perde o rumo, os políticos roubam, os outros países mandam em nós, e nós nos rebaixamos diante dos mais fortes e nos deixamos ser dominados pelo instinto de colônia que, na verdade, nunca nos deixou, uma vez que Dom Pedro não era nada além de uma extensão de Portugal que resolveu se separar. Ou não?
Se tivéssemos nos tornado independentes por conta própria, teria sido diferente?
Não adianta discutir. O que se tem pela frente, o que se pode mudar, é o futuro. O problema é que, do jeito que vai…
Se nosso presidente continuar, se nossa sociedade continuar inconformada e de cabeça baixa, se continuarmos dominados pelos outros países, como seremos o celeiro do mundo? Como seremos o sustentáculo da Terra?
Não seremos. Ou então seremos. Porque todos sabem que o único que tira proveito do celeiro é o dono deste. As galinhas e as vacas não ganham nada, só perdem.
Sobre a Copa.
Não tem nada mais importante no Brasil (afora as novelas) do que a copa. Todo mundo fica louco com a copa do mundo. Mas, por quê? E especialmente, por que o Brasil?
É simples; futebol é a única coisa que fazemos bem, a única coisa na qual somos cinco vezes os melhores do mundo. Ou seja, é algo para se orgulhar. Talvez por isso cobremos tanto dos nossos jogadores.
Mas não é só isso; futebol é a linguagem universal. A que todos falam. Além disso, ele não tem preconceitos. São pessoas de todas as raças jogando juntas, e o país inteiro – indiferente de classe social, raça, idade ou sexo – torcendo para elas. Como um time, e não como indivíduos.
Talvez o mundo ainda tenha muito a aprender com o futebol…
Sobre o assim chamado Apocalipse.
Será o fim do mundo chegando? Os maias já previam uma espécie de pausa na vida entre 2012 e 2200 e tanto. O que será que vai acontecer? Será que o mundo vai parar? Ou será que nos tornaremos tão irracionais, tão ignorantes, que não poderemos mais ser chamados de vida? Teremos aniquilado nossa vida interior? Passará o mundo por uma renovação?
Ninguém sabe. Ninguém pode saber. Teremos de esperar.
Mas que o mundo está acabando, todo mundo sabe. Ou, pelo menos, é o que querem que pensemos. Será que ele está mesmo acabando? Com as calotas polares derretendo, a poluição, o aquecimento, os desastres naturais, as guerras, a fome, a peste… Serão os cavaleiro do apocalipse? Será mesmo?
E o pior é que é.
Aliás, o pior isso não é. Há coisas piores.
Como por exemplo, o fato de que ninguém ainda se deu conta disso.
Até quando vamos aguentar?
Sobre namoros e términos deles.
Namoros, momentos na vida em que dois trilhos de trem, duas avenidas, dois caminhos se intercruzam, se juntam por um período e depois se separam; duas cordas que se unem e depois correm soltas. Como alguma sorte, elas deixam marcas, deixam alguns nós, nós especiais, influências de um sobre o outro que nunca mais serão esquecidas. Para o bem ou para o mal.
Mas, o que é um namoro? O que é este pertencer momentâneo a outra pessoa? Por que fazemos isso? Por que tornamos a fazer? E mais, por que uma coisa tão simples como o amor se torna tão complicada? Por que não podemos simplificar?
Nas palavras de John Lennon, por que praticamos a violência em plena luz do dia, mas temos de nos esconder para fazer amor?
Por que começamos, por que terminamos? Por que o tempo corre e faz tudo passar tão rápido? Como tanto tempo pode ser tão pouco e tão pouco, tanto? Como?
O que nos faz nos juntar e nos separar? Como se pode explicar isso? Como se pode descrever?
Não se pode. Tudo que se espera é que, depois de algum tempo, as duas vias mais uma vez se encontrem, no horizonte ou não.
Porque, como diz a física, duas linhas paralelas sempre vão se encontrar. No infinito.
Sobremesa.
A melhor parte da comida. Pela qual todos esperam e para a qual sempre há espaço.
Vou deixar que vocês filosofem sobre ela.
Nota do autor, setembro de 2021: é interessante notar que esta crônica tem 15 anos (bem quando eu estava fazendo 18), mas diversas coisas dela permanecem exatamente iguais. Seria bom, porém, se o único problema do Brasil fossem líderes de cabeças baixas. Mal sabia eu, naquela época, como as coisas iriam degringolar…
¹ (Nota de 2021) Atualmente, temos o zapzap. Mas não muda nossa solidão. Acho que Bauman iria curtir esta crônica.
O Dr. David sempre sonhou em ser médico e, especialmente, em cuidar de crianças. Formou-se em medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e, após dois anos trabalhando como médico generalista, onde pôde atuar próximo a famílias pobres e conhecer suas dificuldades e os diversos problemas do sistema de saúde brasileiro, começou a residência em Ortopedia e Traumatologia pelo Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Leia mais