Banana?
– Vocês não sabem a vergonha que eu passei esses dias – comentou João.
– O que foi agora? – questionou Dudu, que estava observando enquanto Rogério e Tiago jogavam uma partida de Fifa.
– Outro dia a diretora da escola das meninas chama eu e a Jennifer para uma reunião.
– Certeza que você achou que ela ia falar que a sua filha era um verdadeiro gênio e que ia adiantar ela de turma? – zombou Rogério.
– Não, claro que não, eu estava é com medo de que ela tivesse aprontado alguma.
– E aprontou?
– Olha só o que a diretora me fala: que a minha filha tava espalhando pra todo mundo que o pai dela tinha um bananão!
Rogério começou a rir tanto, que Tiago teve de pausar o jogo.
– Eu imagino a cara da Marta falando isso! – falou ele, que tinha a filha na mesma escola que o amigo. – Ela que é toda puritana!
– Pois é, ela tava vermelhaça.
– Mas, cara, como assim sua filha saiu falando esse tipo de coisa?
– Eu sei lá qual foi o contexto. Sei lá, criança dessa idade, deve começar a falar alguma coisa disso, não? Falaí, Tiagão, você que é o cara da ciência da parentalidade.
– Ah, as crianças entram em uma fase fálica, né. Aquela coisa freudiana, complexo de castração e tal. É natural falarem disso.
– Mas, véi, eu não entendo uma coisa – falou Rogério. – Como sua filha sabe o tamanho da sua banana?
– Ah, elas me veem pelado de vez em quando.
– Como assim, Jão? Não pode!
– Por que não, Rogério?
– Não é possível que isso faça bem! A gente não tava discutindo outro dia sobre pornografia?
– Não, mas uma coisa é pornografia, a outra é ver os pais pelados!
– Ah, não sei, não parece certo.
– Falaí, Tiagão!
– Ah, ver os outros pelados é uma coisa cultural, sabe? Tem culturas em que é normal, culturas em que não é… É que aqui, no Brasil, a gente não tem muito esse costume, não.
– Mas eu não deveria ter deixado? Preciso me esconder agora? Eu só tenho um banheiro, não adianta, ele acaba ficando aberto pra quando as crianças precisam fazer xixi, e sempre, sempre alguém quer cagar no meio do meu banho!
– Que vida… – comentou Dudu.
– Nem me fale!
– Talvez, não esconder, mas falar para sua filha que ela não deve ficar… Ahm… Fazendo propaganda da sua banana? – tentou Tiago.
– Cara, podia ser muito pior – falou Rogério. – Imagina se ela falasse que você tem uma bananinha? Tipo banana ouro?
Os outros dois riram; Tiago ficou sério.
– Meu, sério. Que diferença faz o tamanho da banana?
– Ah, não, Tiagão, lá vem você com esses discursos politicamente corretos!
– Não, eu tô falando sério, não faz diferença. Se a gente começa falando coisa assim desde pequenos para os nossos filhos, eles vão crescer com traumas de coisas que nem sequer são verdade!
– Véi, pra mim isso é discurso de gente de banana pequena – retrucou Rogério, cutucando João.
– É verdade – completou João. – Sua banana é pequena, Tiago?
Ele bateu a mão na testa e lentamente passou pelo rosto, com uma expressão de inconformado.
– Sério, em que série vocês estão? Agora dá pra entender por que a Júlia saiu falando da sua banana.
Os outros dois riram.
– Eu tô falando sério, gente. Ninguém fala disso, mas os homens sofrem por causa dessa história idiota de tamanho de banana. Vocês sabiam que, na antiguidade, as pessoas com banana grande eram consideradas como idiotas? Um grande bobalhão, sabe aquela história? Tanto que as pinturas e as esculturas que você vê por aí sempre retratam bananinhas. Banana pequena era sinônimo de inteligência.
– Porra, se for assim, você deve precisar de uma lupa, e o meu QI deve ser de menos vinte! – explodiu Rogério, matando-se de rir com João.
Até Dudu entrou na roda.
Tiago apenas bufou.
– Sério, eu não sei por que sou amigo de vocês. Quero trazer algum conteúdo útil pra vocês…
– Relaxa, Tiagão, a gente só tá fazendo um bullying saudável.
– Não existe bullying saudável.
João colocou a mão sobre o ombro do amigo.
– Você quer conversar mais sobre isso? Como se sente em relação ao tamanho da sua banana?
E os outros dois gargalharam novamente.
– Bom, se vocês estão em dúvida em relação a tamanho ser documento, vamos perguntar pro único cara que ainda fica trocando a banana de fruteira. Duduzão, e aí? Alguma mulher já reclamou do tamanho da sua banana?
Todos olharam ansiosamente para o Dudu, o único que não era casado e vivia trocando de namorada.
– Cara, o importante não é a varinha, é a mágica – ele disse.
Tiago bateu palmas, satisfeito.
– Falei!
– Mas, por outro lado… – completou ele. – Pode não ser nenhuma banana da terra, mas acho que tá pro tamanho de uma nanica… Então, não sei…
Rogério e João gargalhavam de volta. Tiago só balançou a cabeça.
– Sério, gente…
– Tá bom, Tiagão, relaxa. Sem ditadura do tamanho da banana daqui pra frente – comentou João.
– Agora, me tira uma dúvida… O certo é medir a banana dura ou mole? – questionou Rogério.
– Dura – respondeu Tiago, de pronto.
– Há! Isso é desculpa de quem tem banana ouro! Sabia!
Os três gargalharam, enquanto Tiago os xingava e falava que ia embora.
– Relaxa, Tiago, bora jogar de novo. Não faço mais piadas sobre bananas.
– Vou falar para a minha filha não falar mais sobre isso – disse João.
– E vou falar pro meu sobrinho que tamanho não importa – completou Dudu.
Com isso, ficaram todos tranquilos por um tempo, até Tiago fazer um gol.
– Banana pra você!
– É da terra? Porque se for ouro, não tem graça! – retrucou Rogério, antes de levar uma almofadada na cabeça.
– Agora, falando sério, eu fiquei curioso com uma coisa – comentou João.
– Fale.
– Já falamos da banana… Agora, o tamanho da fruteira faz diferença?
E lá se foram em mais uma explosão de discussões.
O Dr. David sempre sonhou em ser médico e, especialmente, em cuidar de crianças. Formou-se em medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e, após dois anos trabalhando como médico generalista, onde pôde atuar próximo a famílias pobres e conhecer suas dificuldades e os diversos problemas do sistema de saúde brasileiro, começou a residência em Ortopedia e Traumatologia pelo Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Leia mais