A Guerra na Ucrânia

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– Deixa eu entender um negócio.
Eu quase derrubei o bisturi. É, é verdade, Vanusa resolveu aparecer no meio de uma cirurgia.

– Vanusa, pelo amor de Deus, não quando eu estou operando!

– O que foi, doutor? – perguntou a circulante.

– Nada, nada…
Bem, ela se conteve ao menos até eu estar sentado no vestiário, descansando depois de uma cirurgia de seis horas.

– Agora, pode?

– Pelo menos, você teve a decência de esperar eu me trocar.

– Nada que eu já não tenha visto antes – ela comentou, checando suas unhas venusianas com descaso.
Revirei os olhos.

– Tá bom, Vanusa, o que você quer?

– Estou tentando entender essa guerra na Ucrânia. A OTAN ofereceu uma vaga para a Ucrânia, mas isso deixaria a OTAN, que é inimiga da Rússia desde a Guerra Fria, aliás, adoro esse nome, Guerra Fria, sempre imagino vocês lutando com pistolas de nitrogênio líquido… O que, vocês não têm? É legal demais… Enfim, deixaria a OTAN perto demais da Rússia.

– Certo.

– Daí, ela achou melhor invadir a Ucrânia, sob o pretexto de que estaria “ajudando” a se livrar de extremistas neonazistas, que, na verdade, são a minoria da população e poderiam ser controlados internamente.

– Isso.

– Isso ajudaria a não parecer uma guerra. Só que é. Mas, na televisão russa, ninguém pode falar isso e eles ainda dizem que a Ucrânia está atacando a si mesma! Isso não faz sentido!

– Relaxa, se não bloquearem a internet no país inteiro, o povo ainda vai saber do que está rolando do lado de fora.

– E, enquanto isso, os outros países ficaram embromando e embromando para fazer sanções, que é a nova forma de se fazer uma guerra, a guerra econômica.

– Sim.

– Neste meio tempo, a Rússia, que considera que a Ucrânia é parte sua, já que estavam juntas na URSS, está lá matando e destruindo. Já vi algo semelhante acontecer lá na década de 1930, com a Alemanha.

– Você viu? Quantos anos você tem?

– Isso não importa – ela cortou. – Mas, a guerra não traz benefícios para ninguém.

– Exatamente. Quer dizer, exceto para quem vende armas.
Ela ficou em silêncio um pouco.

– Eu não entendi, o que, exatamente, você queria saber, Vanusa?

– Na verdade, eu só queria ver se você estava acompanhando. Eu já sei como acaba.

– Como é? Você sabe? Então, me fala! Eu preciso sair do Brasil? Deveria fazer um bunker? Estocar comida? Vamos ter uma escalada para a Terceira Guerra Mundial?

– Ah, seu bobinho – ela falou, batendo na minha cabeça como se fosse um animal de estimação. – Não é com essa que você precisa se preocupar. É com a Primeira Guerra do Sistema Solar.

– Como???
E, dito isso, ela sumiu do vestiário.
Sério, ela faz isso só para me ver sofrer, eu tenho certeza!