Extraterrestres
Eu estava tomando café em uma padaria, esperando o meu consultório abrir, quando a Vanusa simplesmente apareceu sentada à minha frente, já com a sua mesma caneca de sempre, tomando sabe Deus o quê.
– Vanusa! – exclamei.
– E aí?
Eu olhei ao redor; não tinha ninguém olhando para nós, o que significava que ninguém mais estava vendo a Vanusa, já que seria um caos se alguém visse um ser azul como ela no meio de uma padaria, tomando tranquilamente um café.
Coloquei um fone de ouvido, para, ao menos, parecer que eu estava conversando com alguém pelo celular.
– O que veio fazer aqui?
– Ué, eu não posso mais aparecer para tomar uma xícara de café?
Aquele negócio na caneca dela parecia tudo, menos café.
– Vou aproveitar para perguntar, então! Recebi mais uma pergunta de leitores. Querem saber o que você acha daqueles esqueletos de extraterrestres que encontraram no México.
– Ah, os tais dos aliens do Atacama?
– Sim!
– Pequenos, com a cabeça deformada, não é?
– Isso mesmo!
– Ah, nada de novo.
– Como assim? São extraterrestres ou não?
– Ah, não. Não são. Foram montados com ossos de outros animais e coisas do tipo, mas definitivamente aqui da Terra.
– Sabia! – respondi. – Porque eles realmente não se parecem nem um pouco com você, a não ser que os bebês venusianos sejam esquisitões daquele jeito.
– Ei!
– O que mais eu poderia pensar?
– Mas o importante não é o que eles são, mas, sim, quem fez.
– Sim! Quem fez? Foi um charlatão que queria enganar…
– Foi um venusiano. Uma criança venusiana, para falar a verdade.
Meu queixo caiu.
– O quê?
– Exatamente isso – ela falou. – Esse é um projeto de escola. Para ensinar as crianças como os terráqueos são sucetíveis a enganações. Toda vez a gente faz alguma coisa, como as marcas nos campos e tudo mais. Ano passado, resolveram fazer um “engane o terráqueo”, e várias crianças fizeram esqueletos. O extraterrestre mais convincente ganhava.
– Sério?
– Sim.
– E quem ganhou?
– Não sei, ainda está rolando. Isso pode levar anos. Vocês precisam encontrar o extraterrestre e duvidar dele. Ou não. Ele pode estar vivo, andando por aí, falando com vocês a qualquer momento, e não ser nada além de um projeto escolar.
– Ei, bela fantasia de carnaval! – exclamou um cara, entrando na padaria. – Parece Avatar!
– Não, parece aquela mulher azul do quinto elemento – disse outro.
– Da hora – disse o primeiro, por fim, passando a mão no ombro azul de Vanusa.
– Obrigada – disse ela.
Eles foram adiante.
– Eles conseguem te ouvir e te ver?
– É lógico. Você achou que eu era fruto da sua imaginação? – ela falou e, em vez de desaparecer, simplesmente se levantou e passou pela catraca.
Ninguém ligou. Só porque é carnaval…
O Dr. David sempre sonhou em ser médico e, especialmente, em cuidar de crianças. Formou-se em medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e, após dois anos trabalhando como médico generalista, onde pôde atuar próximo a famílias pobres e conhecer suas dificuldades e os diversos problemas do sistema de saúde brasileiro, começou a residência em Ortopedia e Traumatologia pelo Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Leia mais