Páscoa-Pessach
– Deixa eu entender isso aí. Porque, na verdade, na minha cabeça, não está fazendo sentido nenhum.
– Certo.
Eu estava no supermercado, olhando o preço abusivo dos ovos de Páscoa, quando ela apareceu.
– Vocês têm um feriado agora em abril, que acontece quarenta dias depois do carnaval, em que se comemora a morte de Jesus, é isso?
– Não é bem comemorar a morte, os cristãos relembram a morte de Jesus.
– Que era filho de Deus, mas era Deus?
– Depende do ponto de vista religioso. Tem algumas vertentes que acreditam que eram separados, tem vertentes que acreditam que eram um só.
– Tá, ok. A física quântica em meu ser dá conta disso. E vocês relembram o seu sacrifício pela humanidade, por meio de… Ovos de chocolate? Trazidos por um coelho?
– Olha, a explicação é difícil. Parece que dar ovos de galinha pintados era uma tradição antiga; parece que os ovos como tradição vieram de Luís XII após voltar de uma cruzada. Os ovos representam renascimento, o que faz sentido, porque Jesus renasceu no domingo de Páscoa. E o coelho, bom, parece que havia um coelho preso no túmulo de Jesus, portanto, ele foi o primeiro a vê-lo reviver.
– E o chocolate?
– Quer coisa melhor que o chocolate?
– Bom, tenho de admitir que, nisso, ao menos, vocês acertaram! – respondeu Vanusa. – Mas, você também comemora outra coisa, não? Pessach, é isso?
– Sim, muitos chamam isso de Páscoa judaica. Na verdade, a festa de Pessach relembra a passagem do anjo de Deus, a última praga do Egito, que levou à morte os primogênitos egípcios, mas não os judeus.
– Porque eles tinham marcado as casas com sangue né?
– Isso. Depois disso, Moisés abriu o Mar Vermelho e eles fugiram para o deserto, onde ficaram por 40 anos, perdidos.
– E essas festas ocorrem sempre em épocas próximas, certo?
– Sim.
– Curioso, não?
– Quem sou eu para julgar?
– Agora… Os judeus também têm umas coisas diferentes no Pessach, né?
– Não podem comer certas coisas que fermentam. E comem a matzá, conhecido mais como pão ázimo. É o pão que eles levaram no deserto, quando fugiram, que foi comido sem fermentar, justamente porque não houve tempo, na fuga.
– Essas histórias de vocês sempre me encantam.
– Vocês não têm essas coisas em Vênus, não, Vanusa?
– Ah, não. Não temos religião. Isso é só uma baboseira para controlar o povo, especialmente aqueles que têm medo do que vem depois da morte.
– E vocês sabem o que vêm depois?
– É, claro, seu bobinho – falou ela, dando aqueles tapinhas de condescendência na minha cabeça.
– E o que é?
– Não quero estragar a surpresa – ela falou, desaparecendo em pleno ar.
Típico.
O Dr. David sempre sonhou em ser médico e, especialmente, em cuidar de crianças. Formou-se em medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e, após dois anos trabalhando como médico generalista, onde pôde atuar próximo a famílias pobres e conhecer suas dificuldades e os diversos problemas do sistema de saúde brasileiro, começou a residência em Ortopedia e Traumatologia pelo Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Leia mais