Pets

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Eu estava passeando com o meu cachorro, quando, é claro, no meio do caminho, ele decidiu fazer cocô. Ele fez, eu peguei uma sacola com a mão que não segurava a guia, abaixei-me e coletei o dejeto. Depois, amarrei e sacola e joguei em uma lixeira logo ao lado, enquanto Sherlock (sim, meu cachorro se chama Sherlock Bones) me puxava para lá e para cá, querendo continuar com o passeio.

Foi neste momento que eu ouvi uma voz atrás de mim:

– Estes são os humanos. Existem uns oito bilhões deles.

– Oito bilhões? – perguntou uma outra voz, que eu nunca tinha ouvido.

– Sim, oito bilhões. E eles são comandados, por incrível que pareça, por esses outros seres, chamados cachorros.

– Cachorros?

– Sim. Esses peludos com coleiras que colocam guias para puxarem os humanos para um passeio.

– Mas, por que eles levam os humanos para passear?

– Ora, não é claro? Para pegar os dejetos deles. Você vê, eles pegam sem reclamar!

– Uau!

– E ainda servem comida, água, dão banho… Às vezes até dormem com eles na cama, para não ficarem sozinhos.

– Dormir na cama com um humano?

– É, eu sei, é meio nojento, mas tem uns cachorros que são carentes…

Nisso, passou um gato, que ficou apenas encarando o Sherlock, andando preguiçosamente pela rua.

– E aquele outro ali?

– Aquele é um gato. Parece um cachorro, mas não é. O estilo de dominação dos gatos é completamente diferente. Enquanto os cachorros dominam os humanos com amor, os gatos dominam com… Total indiferença.

– Indiferença?

– Sim. Veja, os gatos não estão nem aí para os humanos. Tudo o que eles querem é que alguém sirva comida, troque a sua caixa de areia e fim. Os gatos fazem o que bem entenderem e, quando sentem que estão perdendo a fidelidade do humano que cuida deles, eles se aproximam, fazem algum carinho, e os tontos dos humanos se submetem novamente à sua dominação.

– Uau! – disse a outra vozinha.

– Mas não é só isso. Teve um escritor humano que escreveu um livro, uma vez, sobre uma fazenda de animais, que era comandada por humanos, mas que depois foi dominada novamente pelos animais.

– Era ficção, não era?

– Claro que sim! Imagine, humanos dominarem alguma coisa? Mas, o que eu quero dizer é que o mundo não é dominado só por gatos e cachorros. Algumas casas são dominadas também por outros animais, como porquinhos da Índia, iguanas, cobras… Esses animais que moram em casas são chamados de pets.

– Pets?

– Isso. Esse é o nome que os humanos dão para os animais que os domesticaram.

Eu não aguentei; virei-me e disse:

– Ei, Vanusa, que história é essa?

Mas pulei de surpresa; havia uma Vanusa e uma Vanusinha logo ao seu lado!

– Quem é essa, Vanusa?

– É a minha sobrinha. Hoje é dia de conhecer o trabalho dos pais, e eu trouxe ela comigo. Ela já foi visitar a mãe no ano passado.

– Mas você está explicando tudo errado! Pode isso, Arnaldo?

– Será que eu estou explicando tudo errado – ela falou, chegando mais perto –, ou que você entendeu tudo errado até hoje?

E, com isso e uma risada da sua sobrinha, ela desapareceu.

Olhei para o Sherlock, que me encarou de volta com seu olhar inocente.

Ou será que era tudo parte de um plano de dominação?