Sinais dos campos
– Sabe que tem uma coisa que eu simplesmente adoro em vocês, humanos?
– O quê?
– Essa história de achar que esses desenhos feitos nas plantações são sempre de alienígenas.
– Ah, você está falando das marcações na plantação lá em Santa Catarina?
– Exatamente – disse Vanusa.
– Eu estava justamente para te perguntar isso. Uma leitora mandou uma pergunta sobre isso.
– Olha, mais uma pergunta de leitor?
– Pois é.
– Então, agora você tem um total de 3 leitores?
– Basicamente, isso, contando com você, é claro.
Ela riu.
– Mas, agora, fala sério: você não teve nada a ver com isso?
– Primeiro: o que faz vocês pensarem que um disco voador faria um negócio desses?
– Não sou eu que penso, na verdade. Eu realmente acho que a culpa não é de vocês. Mas, acho que o pessoal imagina que se deva aos propulsores da nave ou coisa parecida.
– Bobinhos – disse ela. – Por que meus propulsores fariam um desenho nestes padrões?
– Ah, eu não sei, quando o Thor usa a bifrost, fica uma marca no chão, sabe? Parece esses desenhos de plantação.
– Sério, você não usou um herói da Marvel como um argumento científico, usou?
– Estou só aqui pensando como os outros pensam! – respondi, rindo.
– Vou te dizer, meus propulsores deixam uma marca beeeem pior do que aquela. E isso me leva ao segundo item: o que faz vocês pensarem que eu não tenho nada melhor que fazer, para ficar fazendo desenhos em plantações?
– Eles imaginam que seja uma forma de vocês se comunicarem com a gente. Podem ser ideogramas.
– Eu não estou me comunicando com você neste exato momento?
– Mas você é uma alienígena diferenciada. Uma antropóloga interplanetária. Quem garante que outros alienígenas falam português?
– Sério, é impressionante a capacidade que vocês têm de ficar inventando coisas para contornar o óbvio.
– E qual é o óbvio?
– Algum idiota pegou uma corda, uma chapa de madeira e ficou fazendo desenhos na plantação no meio da noite, só para virar notícia!
– Você parece saber bem como fazer esse tipo de coisa…
– É a coisa mais óbvia do mundo! – disse ela, exasperada. – Ah, falando nisso, tem uma chapa de madeira lá nos fundos, estou precisando pra minha nave, posso pegar?
– Claro – respondi aereamente, ainda pensando na nossa discussão. Como será que a pessoa fazia isso? Prendia a chapa na corda e saía andando no meio do matagal? Deveria ser uma chapa pesada? Ou será que uma chapinha leve, como a que eu tinha, já serviria para dobrar o mato?
E, quando me dei conta do que ela tinha dito, eu me virei:
– Ei, Vanusa, espera! Para que você precisa de uma chapa de madeira, se a sua nave é de metal?
Mas ela já tinha desaparecido em pleno ar.
O Dr. David sempre sonhou em ser médico e, especialmente, em cuidar de crianças. Formou-se em medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e, após dois anos trabalhando como médico generalista, onde pôde atuar próximo a famílias pobres e conhecer suas dificuldades e os diversos problemas do sistema de saúde brasileiro, começou a residência em Ortopedia e Traumatologia pelo Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Leia mais