De nomes e relacionamentos
Eu acho que um dos modos de escolha de com quem você vai sair um dia não são apenas a aparência física e, para alguns, o interior. A maioria das pessoas esquece uma das coisas mais importantes no caso: o nome. Por isso mesmo que garçonetes usam crachás mostrando seus nomes. Estão cansadas de levar cantadas na boate.
Imagine um cara terminando com a namorada.
– Não, não é você.
– Então é você? É isso que está dizendo? – pergunta ela, indignada.
– Não, não, também não – responde o outro, fitando o nada.
– E o que é então, diacho?
– É o seu nome, meu Deus do céu! Seu nome está me deixando louco!
– Como?
– Josicleide Maria José Nascimento Antunes da Silva e Silva!
(Nada contra quem tem este nome, caro leitor).
– E o que tem ele? É um nome muito mais bonito do que o de muita gente.
– Não, não é isso! São os apelidos, Deus! Não sei mais nada! Eu atendo o telefone, pergunto quem é, vem um é a Jô, a Si, Clei, a Ma, a Majô, a Josi, a Silva, a Nascimento, a Antunes! Nem sei mais nada! E quando estou falando sobre você então? Você conhece a Jô?, pergunto, e respondem, que Jô?, e eu de volta, a Ma, ou Jô, ou Si, ou Clei, ou Majô, ou Josi, ou Silva, ou Nascimento, ou Antunes, e ele vira de volta, a Josimar?, o que eu nem sei mais se é uma junção da metade do seu primeiro nome com a metade do seu segundo ou o nome de uma pessoa mesmo!
Além disso, outra coisa muito importante quando se vai apresentar alguém para um amigo é o nível de conhecimento. Por exemplo, quando se vai apresentar a pessoa (digamos que seu João vai apresentar a senhora Josi – só Josi) a um amigo, não basta dizer um “trabalho com ela”. Quanto mais complicado, melhor:
– A Josi, vizinha da prima do chefe do lugar onde eu trabalho, que coincidentemente trabalha comigo!
Ou então, caso estude no mesmo colégio, ao invés de dizer que está na mesma classe:
– É amigo do irmão da amiga da minha melhor amiga.
E, se for familiar:
– É bisneta da minha avó, mas filha do segundo casamento da filha do quarto casamento da tia da minha mãe.
E imagine fazer uma árvore genealógica disso tudo!
Por isso que eu acho que todas as pessoas deveriam ter números, ao invés de nomes.
– Quem é você?
– 5.342.234.713.
– Nome bonito. Nunca vi igual.
– E você?
– 4.561.001.324
– Que chique, combina com os seus olhos!
E não ia ter como confundir, do jeito que tem hoje em dia. Não ia ter mais aquele:
– Conhece o João?
– Que João?
– Aquele, amigo do André, primo da Camila, vizinha do seu Nelson, parente do Silvio Santos.
– Ah, sim – responde o outro, apesar de não saber.
Ia ser exatamente assim:
– Conhece o 3.333.333.333?
– Puxa, eu vi ele em algum lugar, mas não consigo me lembrar da cara dele!
Ou então:
– Encontrei ele ontem!
Ou ainda, sem medo de errar:
– Nunca ouvi falar.
Melhor ainda seria se o RG e o número de telefone fossem de acordo com o nome. Não ia ter erro, e nem seria necessária a lista telefônica:
– 4.635.751.302, telefone 4.635.751.302, RG 4.635.751.302.
E o melhor ainda seria nas apresentações:
– 1.123.534.423, amigo do 5.234.657.828, primo do 6.000.000.001, vizinho do 2.674.824.123, que coincidentemente, trabalha comigo!
Como seria o meu nome?

O Dr. David sempre sonhou em ser médico e, especialmente, em cuidar de crianças. Formou-se em medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e, após dois anos trabalhando como médico generalista, onde pôde atuar próximo a famílias pobres e conhecer suas dificuldades e os diversos problemas do sistema de saúde brasileiro, começou a residência em Ortopedia e Traumatologia pelo Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Leia mais