Pedra, papel e tesoura
Ele colocou tesoura; o outro colocou pedra. Ele perdeu.
Pensou bem assim: “Se ele colocou pedra, e eu perdi, ele acha que vou colocar papel, para combater a pedra dele, então, ele vai colocar tesoura, só que eu vou ser mais esperto e colocar pedra”.
O outro pensou assim: “Se ele colocou pedra e perdeu, ele provavelmente vai achar que vou colocar tesoura, para combater o papel, que ele vai colocar para combater a minha pedra. Então, ele vai pensar em colocar pedra para combater a minha tesoura, assim, o jeito é eu colocar papel para vencer a pedra dele!”.
Só que aí, ele pensou melhor: “Mas, se eu colocar pedra para combater a tesoura que ele vai colocar para combater o papel que eu colocaria para combater a pedra dele, é capaz de ele prever e colocar papel, então, é melhor eu colocar tesoura para combater o papel que vence a pedra que seria para vencer a tesoura que dominaria o papel para combater a pedra da tesoura que ele colocou”.
E o outro não deixou por menos: “Se ele conseguir prever que eu vou colocar papel para vencer a pedra dele, ele colocaria tesoura, então é melhor eu colocar a pedra para vencer a tesoura que venceria o papel que combateria a pedra que combateria a tesoura que combateria o papel que venceria a pedra!”.
No que ele pensou melhor: “Se ele souber que eu vou colocar a tesoura, ele vai colocar pedra, então é melhor eu escolher papel! Porque o papel vai vencer a pedra que venceria a tesoura que venceria a pedra que combateria a outra tesoura do papel que… A pedra e… Como era mesmo?”.
E o outro também: “Mas, se ele imaginar que eu vou colocar a pedra, ele vai colocar papel, então é melhor eu escolher a tesoura, para combater o papel, que venceria a minha pedra, ou… Calma, era a minha pedra, ou a pedra dele? Ah, isso está confuso demais!”.
Ao fundo, o juíz disse:
– Pedra, papel, tesoura!
Isso era o sinal para irem; sem mais tempo para pensar, os dois estenderam as mãos.
Duas pedras.
Ele pensou: “Empatamos! Eu coloquei pedra, então, ele acha que vou mudar para tesoura para combater o papel que ele colocaria para vencer a pedra, e…”.
O outro não foi diferente: “Diacho! Vou colocar tesoura para combater o papel da pedra, mas, se ele conseguir prever…”. O resto da competição foi puro empate. Venceu a exaustão mental.
O Dr. David sempre sonhou em ser médico e, especialmente, em cuidar de crianças. Formou-se em medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e, após dois anos trabalhando como médico generalista, onde pôde atuar próximo a famílias pobres e conhecer suas dificuldades e os diversos problemas do sistema de saúde brasileiro, começou a residência em Ortopedia e Traumatologia pelo Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Leia mais