O café de todo dia
O café é a bebida nacional do Brasil. Pode-se dizer que não, que é a Pirassununga, que a pinga é nossa e tudo mais, mas a verdade é que, apesar de os italianos serem os reis do café, nós que servimos de povo. Não fosse todos nós, a Europa nunca teria um preço acessível a esta maravilhosa bebida – e, provavelmente, não fossem os europeus, nós também nunca teríamos tomado isso. Reza a lenda que as ovelhas de um pastor estavam pastando por aí, quando comeram as sementes de uma planta. Logo depois, o velho homem viu que elas estavam literalmente doidonas, e resolveu experimentar, cozinhando a semente e criando o primeiro café – ainda de qualidade terrivelmente baixa.
Como a introdução a esta bebida não tem limite de idade – por lei, o álcool é proibido para menores, mas o café ainda não – pessoas de todas as idades o tomam, de forma que o tipo de café que a pessoa toma mostra características de sua personalidade. Vejamos uns exemplos (Leitor, não tome isso como um teste psicológico; se, por acaso, o café não condisser com a sua personalidade, não fique triste; e, se por acaso disser que você deveria ser um assassino sanguinário – o que eu espero que você não seja –, por favor, não se torne um só por causa desta crônica de segunda categoria):
Café curto, forte, il matadore: é para aquelas pessoas que levam a vida num tranco só; precisam de energia para encarar um longo dia para frente, logo tomam um copo de café tão forte que levanta defunto. É desses que habitam as xícaras de caminhoneiros – quando ela não está ocupada com chimarrão –, dos coveiros, dos médicos e de todos os profissionais que passam a noite acordados, como jogadores de pôquer de carteirinha, guardas noturnos e profissionais do sexo. Os bons tomadores de café tomam a xícara toda em um gole só, façanha que os amadores muitas vezes tentam antes de ter um ataque cardíaco.
Capuccino, tutti colori: esse é para aqueles que já viram milhares de coisas na vida e querem tudo misturado em um só; chocolate, canela, café, leite, alguns até chantili. Muitas vezes são jovens tentando completar sua vida, em busca de uma nova aventura, adultos em uma vã tentativa de recuperar o tempo perdido, ou os velhos de trilhares de quilômetros rodados, lembrando-se do passado, onde estiveram nas Américas, na Índia, na França, na Holanda…
Café com leite, il lembranza de Nonna: especialmente criado para escritores de crônicas que não têm mais o que fazer da vida, o café com leite é uma mistura da força do café para os adultos com a lembrança da mãe, em uma verdadeira junção de Freud com cafeína. A ternura e a amargueza da vida, em seus muitos momentos, é uma mistura perfeita para aqueles que querem levar a vida hora devagar, hora rápido. Alguns ainda chegam a misturar um pouco de chocolate, quem sabe para tornar a vida ainda mais doce.
Café carioca, il matado: sim, o café carioca é o café morto, em comparação com o café forte, normalmente espresso (ou até mesmo o de coador). Este é um café fraco, feito com muita água e pouco pó, que normalmente os pobres tomam – tanto por falta de CApital como de FÉ –, não só no Brasil como no resto do mundo. É para aqueles que não têm mais esperança no mundo, nem na própria vida, logo tomam o café bem fraco, como se para mostrar o interior sem mais forças para enfrentar o mundo. Curiosamente, o consumo de café carioca cresce quando certos líderes ascendem ao poder…
Além disso, as pessoas adoçam – normalmente – o café, como mostrado a seguir:
Açúcar mascavo: os naturalistas.
Açúcar refinado: as pessoas que não ligam para a caloria, mas sim para o quanto adoçam.
Açúcar especial, com triplo poder adoçante: para aqueles que querem cuidar das gordurinhas, cortando as calorias do café.
Aspartame ou adoçante: para as antíteses em pessoa, que comem um bolo gigantesco de quatro camadas de chocolate e chantili, depois de uma churrascada com direito a mussarela no fogo e a camada de gordura da picanha, e adoçam o cafezinho com uma fezinha de que vai fazer qualquer diferença no final…
Por fim, sobram aqueles que não adoçam, que já são tão amargos por dentro que nem o café sem açúcar os derruba.
PS: Para todos aqueles que perceberam os macabros erros de italiano ou então simplesmente repararam que se parecem um pouco com nome de macarrão, saibam que isso é de propósito, especialmente para mostrar a incompetência do autor e a necessidade de que ele faça um curso de italiano básico para principiantes.
Nota do autor, janeiro de 2021: embora eu tenha comentado sobre o café com leite, eu mesmo não o tomo há uns 15 anos. Depois que estudei medicina chinesa, parei de tomar leite e perdi o gosto. Atualmente, tomo os curtos sem açúcar. Melhor nem ler o que isso significa.

O Dr. David sempre sonhou em ser médico e, especialmente, em cuidar de crianças. Formou-se em medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e, após dois anos trabalhando como médico generalista, onde pôde atuar próximo a famílias pobres e conhecer suas dificuldades e os diversos problemas do sistema de saúde brasileiro, começou a residência em Ortopedia e Traumatologia pelo Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Leia mais
30 de maio de 2025 @ 15:41
Realmente café é a bebida do brasileiro,tomo preto com açúcar ou com leite sem açúcar.