Bom-Dia Sorocaba
23 de março de 2006 – N° 24.666 – Ano 69 – R$ 0,80 – Diretor: Júlio Antônio Neto
O Congue de Sorocaba Causa Caos
Macaco Gigante verde destrói cidade com moça em seus braços
David G Nordon
Correspondente Especial
Parece filme, mas não é. A versão brasileira do Quingue-Congue resolveu dar as caras ontem, em Sorocaba, causando uma confusão nunca antes vista em toda a cidade. Depois de alguns dias conturbados pela fuga dos presos em Iperó e sua trazida para o Hospital Regional, para tratamento, o povo achava que tudo voltaria à sua rotina normal, mas estava enganado.
A emoção prosseguiu, conforme um macaco gigante, semelhante a um gorila de aproximadamente seis metros de altura, irrompeu pela rodoviária, portando, em suas mãos, uma moça de algo em torno de 25 anos, histérica e desesperada, implorando para que fosse posta no chão. E mais; como se a cena por si só já não fosse bizarra o suficiente, a mulher berrava o tempo todo que o macaco era seu noivo. O macacão tinha pelo verde radioativo, como se tivesse sofrido uma mutação pela explosão de Chernobyl ou algo assim.
Testemunhas que observaram a cena notaram que o “Congue Sorocabano”, agora apelidado de Sorocongue, parecia tentar gritar o tempo todo algo semelhante a “Gobuzo”, “Asdurdo”, “Umassurdo” ou até mesmo “Absurdo”, mas nem mesmo os maiores especialistas da língua portuguesa (e os maiores biólogos da PUC de Sorocaba) chegaram a qualquer conclusão de o que o Sorocongue poderia estar expressando.
Após enormes esforços da polícia militar, foi possível traçar a sua rota. Às 15:39, algo causou o epicentro de sua fúria, levando-o a derrubar boa parte da porta principal de saída da Rodoviária e correr desenfreadamente para a avenida em frente, Comendador Pereira Inácio. Irritado, ele destruiu um ônibus que partia para São Paulo, mandando duas dezenas de feridos graves para o hospital e mais 28 direto para o necrotério, dentre eles o motorista do ônibus e mais 15 calouros de medicina, os quais se escondiam no ônibus para fugir do trote (veja a lista de mortos no caderno especial).
Aproximadamente às 15:44, o macacão descia pela Inácio, destruindo tudo que encontrava em seu caminho. Em dado momento, o qual ninguém sabe ao certo, ele arrancou um poste de luz no chão e acertou os 3 calouros fazendo pedágio na esquina do Restaurante Tropical, antes de arremessar a arma do crime contra o estabelecimento, acertando, assim, 19 clientes, dentre os quais 2 em estado grave (veteranos que fiscalizavam o pedágio). Pouco depois, ainda em sua fúria, a mulher já desmaiada em seus braços, berrando ainda algo semelhante a “Estornudo”, o Sorocongue correu pela Washington Luís, acertando, no processo, dezenas de casas. A assim chamada República Cinco de Paus, a qual viria a sediar uma churrascada naquele dia, foi feita em pedaços (os motivos obscuros pelos quais o macaco insistia em acertar os estudantes de medicina, acima de todo o resto, são ainda desconhecidos), muito embora não tenha havido nenhum ferido, uma vez que a casa estava vazia (em um exame posterior, seria encontrado no porão da casa um cadáver usando uma camiseta de calouro, na qual estava escrito “Coragem”, mais isto é outra história).
A partir daí, a fera saiu em uma corrida desembestada, chegando até o Wal Mart, onde parou por alguns segundos para observar a grande torre. No posto Petrosul, os frentistas rezavam para que Deus os salvasse, enquanto carros e mais carros de policiais corriam para lá, portando tranquilizantes para derrubar o monstro, o qual ainda berrava algo como “Canurdoooo”.
Por fim, mostrando que ele não passava de uma cópia barata e paraguaia do Quingue Congue, Sorocongue subiu na torre do Wal Mart, urrando e batendo o punho com a mulher no peito peludo e verde radioativo. O que foi uma estupidez, porque quando a escadinha da torre soltou, ele não teve nenhuma mão para se segurar e caiu de costas no posto. Foi neste momento que a intrépida dupla de Físico-Bio-Policiais (usando sapatos número 42 de bicos largos) Luís Vertere e Marcos César Garcia pularam para fora da viatura e atiraram três garrafas de absinto na boca do macacão, gritando Banzai, um com a barriga sacudindo e outro com a careca brilhando (de fato, a careca de César foi usada para refletir a luz do sol e cegar o monstro por tempo suficiente para que Luiz, dispondo de seus conhecimentos de lançamento oblíquo, calculasse o ângulo perfeito para o lançamento das armas).
O Sorocongue foi, então, amarrado e levado por um caminhão (não sem antes, com um esforço sobre-símio, arremessar a mulher que carregava em mãos no rio Sorocaba, de onde ela teve de ser resgatada por Pantufa e Sereia, dois estudantes de medicina que tinham aprendido primeiros socorros havia não muito tempo) para o Zoológico Federal do Rio de Janeiro, onde já se encontram dois jacarés, duas tartarugas e um pinguim surfador achados na praia. O gorilão servirá para estudos sobre as consequências de radiação excessiva contida em batatas fritas Râfous e Coca-Cola no corpo de um primata.
De onde o macaco surgiu e quais foram as razões deste terrível acidente, porém, ainda permanecem um mistério. E provavelmente irão permanecer, por muitos e muitos anos ainda.
(Acompanhe no Caderno Especial as entrevistas com as vítimas e testemunhas).
Nota do autor, setembro de 2021: esta crônica razoavelmente absurda (só razoavelmente??) tem várias piadas internas que aqueles que não participaram da minha infância não conseguiriam acompanhar.
Coragem foi um calouro que desistiu (daí, faz sentido seu apelido). Pantufa tinha este apelido porque parecia com o Chinelo, do terceiro ano, e Sereia porque fazia natação (então, fazia sentido ele salvar a noiva do Chato).
Luís foi meu professor de física, e César, de biologia, no colegial. Os dois fizeram faculdade juntos e tinham suas próprias piadas das quais eles sempre falavam, que incluíam este tal sapato 42 de bicos largos, que, por sinal, parece talvez grande demais para ambos – na verdade, até hoje eu não sei qual o contexto desta piada.
César, por sinal, ainda serviu como inspiração para o personagem homônimo, professor de ciências, da minha coleção “Albert Nerd”. Foram dois professores sensacionais na minha infância.
Ah, sim, na época o zoológico do Rio realmente estava com um pinguim, foi a maior sensação. No Brasil, apesar de isso ser relativamente comum, poucas pessoas sabem que existem pinguins que não precisam de frio para viver (tem até este anúncio no Aquário de São Paulo, quando eles apresentam os pinguins de Magalhães).

O Dr. David sempre sonhou em ser médico e, especialmente, em cuidar de crianças. Formou-se em medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e, após dois anos trabalhando como médico generalista, onde pôde atuar próximo a famílias pobres e conhecer suas dificuldades e os diversos problemas do sistema de saúde brasileiro, começou a residência em Ortopedia e Traumatologia pelo Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Leia mais